domingo, 30 de maio de 2010

COZINHAR X PROGRAMAR - parte 2

O Robson França, que estudou PD comigo na ETE, me respondeu a última postagem via Buzz, e achei muito legal, resolvi publicá-la aqui no Blog:

"Pois é MD. Concordo contigo. Mas tem alguns outros tipos de programadores, digo, cozinheiros por aí:

- Os cozinheiros de microondas: são aqueles que mal-e-má fritam um ovo (conhecem o básico de programação como um todo), mas entregam "grandes" pratos. O segredo deles consiste em duas coisas: produtos semi-prontos (bibliotecas de componentes ou de soluções completas fornecidas por fábricas de software) e um forno de microondas (uma IDE ou suite de aplicativos de desenvolvimento, livres ou proprietárias). Se o cliente quiser uma lasanha três queijos e só tiver a de quatro queijos, baubau. Se o cliente quiser uma sopa de ervilhas com bacon, mas usando proteína de soja no lugar do bacon, já era. Se a comida não estiver legal, esse tipo de cozinheiro já sabe em quem por a culpa: o microondas estava com problema ou o fornecedor dos produtos semi-prontos errou em alguma coisa. E nem pense em pedir para que ele conserte, digo, improvise na hora de servir o prato. O pior é que há vários cursos que seguem essa "metodologia"...


- Os cozinheiros ortodoxos: são cozinheiros que seguem a risca as cartilhas e o melhor da "cuisine française" (padrões e regras definidas pelo mercado/academia/etc.). Pizza com katchup é ofensa, assim como Bife à Cavalo ou o uso de mortadella quente em algum prato. Seus produtos são caros (se não forem os mais caros), mas nem sempre eles sustentam como um bom prato de arroz com feijão. Pior: podem demorar mais para serem feitos e, ao contrário da lógica, podem não ser mais saudáveis que os lanches rápidos (fastfood). Dificilmente pensam fora da caixa (como os cozinheiros de microondas). Se há necessidade de melhorar alguma coisa, a proposta deles é sempre a mais custosa e a que não cobre a maioria das lacunas;


- Os cozinheiros de lanches rápidos ou, como gosto de chamar, os "pasteleiros": Pastel é uma gíria onde trabalho para tarefas rápidas, com prazos medidos em minutos, e que atendem questões pontuais de usuários que, na maior parte das vezes, não são cozinheiros, digo, usuários avançados de TI ou profissionais do ramo de TI. Assim como a iguaria das feiras-livres, o pedido leva alguns minutos, mas há toda uma leva de sub-entendimentos: pastel de pizza sempre tem queijo (consulta ao usuário sempre tem algum tipo de identificação), pastel de bauru tem presunto (uma pesquisa deve prever o impossível, mesmo se o impossível não for importante), etc. Esse usuário se serve do pastel, acha gostoso e, às vezes, até pede mais um, mesmo quando está em falta. Pastel demais (principalmente por causa da gordura) pode dar problemas de estômago, colesterol alto, além de engordar é claro. O "pastel de software" tem os mesmos problemas: pode atrasar projetos maiores, demandar suporte ou manutenção adicionais ou ainda demandar uma atenção que poderia ser direcionada para outras refeições, digo, outras aplicações. Em ambientes onde TI é mais uma ferramenta, isso é bastante comum;

- Finalmente, há os cozinheiros conscientes: raros, são aqueles que buscam uma dieta equilibrada, e sempre observam o cliente. Não apenas no processo de cozimento, mas até mesmo antes do processo. Buscam entender o seu dia-a-dia, o que ele gosta, o que ele não gosta, etc. A dieta (filosofia de desenvolvimento) é ajustada (tailoring) e adequada a vida do cliente, para que este sinta o mínimo de impacto e, caso seja necessária alguma alteração no seu cotidiano (comer menos açucar, digo, acessar uma aplicação via página em vez de uma "aplicação" Access), ela vai ocorrer de forma gradual e de forma que ele participe do processo e se sinta parte desse processo. Ser consciente significa que há espaço para pratos refinados tanto quanto há espaço para uma feijoada ou um misto quente de vez em quando. Seguir à risca padrões pode limitar ou forçar o usuário a embarcar em uma jornada mais difícil sem que este saiba (plenamente) os benefícios dessa jornada.

Bom, é isso.

Abraços"

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